quinta-feira, 10 de junho de 2010

A relevância dos princípios e o desenvolvimento de estratégias no plantio de Igrejas


Fomos chamados por Deus para fazermos parte do seu Reino e de sua missão. É certo de que não há nada mais importante no mundo pelo qual eu ou qualquer crente em Cristo poderia dar a sua própria vida. A igreja é composta por esses chamados por Deus, e na verdade é isso que ela é, até mesmo na essência do significado do seu nome. Por mais que a imagem da Igreja esteja tão deturpada atualmente, é justamente isso que ela representa, um grupo de pessoas chamadas para amar a Deus, amar as pessoas e anunciar a Jesus, o seu Reino, seu amor, sua salvação, sua justiça e seu bondade. Então, a Igreja é o instrumento pelo qual Deus escolheu para manifestar a sua graça, e é, portanto a maneira mais eficaz de proclamar o evangelho ao mundo sem Deus. O Senhor Jesus convocou e ainda convoca a sua Igreja através das gerações a se comprometer com a sua missão, a fim de que todos o conheçam, sejam por eles salvos e entrem em seu Reino Eterno. Especificamente Jesus fez essa convocação em suas últimas palavras aos seus discípulos antes de sua ascensão, o que está relatado no evangelho de Mateus 28. 18-20: E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado. e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” Por isso é nos imperativo a ação de proclamar o evangelho, pois ao Senhor Jesus foi dado todo o poder nos céus e na terra, e cabe nos divulgarmos o Senhorio de Cristo, e o seu Reino a todos. Mas muito mais que uma ordenança, anunciar a Cristo e fazê-lo conhecido é uma atitude intrínseca de todo aquele que se encontra realmente com ele, pois quem pode ter um verdadeiro encontro com Jesus e não ter sua vida transformada de tal forma que não pode conter essa novidade àqueles que estão a sua volta.
            Entendendo o chamado da Igreja, precisamos estabelecer princípios e estratégias adequadas com o nível do nosso chamamento para realizarmos essa nobre tarefa. Foi Jesus que estabeleceu a Igreja (Mt 16.18),  é através dela que ele continuará a sua obra de redenção (Jo 17.21; Ef 1.21-23). No plantio de novas Igrejas tudo que fazemos deve ser produto de uma reflexão teológica bem fundamentada a fim de que nossas ações estejam de acordo com os princípios do Reino do qual pregamos. De nada adianta nos entregarmos ao ativismo pela procura de resultados numéricos sem estarmos de acordo com a vontade de Deus. A centralidade do Evangelho é a própria pessoa do Senhor Jesus Cristo e por isso a Ele devemos ouvir e obedecer. Em Mateus 28.18-20, Jesus afirma que foi lhe “dado todo poder no céu e na terra”, ou seja, Ele é Senhor de todas as coisas, “portanto ide”, diz o Senhor. Então o que fundamenta a idéia central da igreja não é a conversão de indivíduos nem o estabelecimento de igrejas, é mais do que isso, é um chamado que o Senhor Jesus faz a sua igreja para que ela forme pessoas que reconheçam o seu senhorio universal e integrem no seu Reino como cidadãos.
            A partir desse ponto crucial a Igreja pode se comprometer com a missão sendo fiel ao Senhor. Desse modo precisamos ter a mesma perspectiva de Igreja que Jesus tinha, redescobrindo a visão de uma Igreja viva e cheia do Espírito Santo. Uma Igreja sobre a perspectiva de Jesus é uma Igreja centralizada em sua Palavra não em métodos ou ideologias. Em se falando de Reino de Deus os fins não justificam os meios, de nada vale grandes resultados se não estamos de acordo com os princípios do Evangelho. Na verdade, precisamos contextualizar a mensagem do Evangelho de forma que ela faça sentido para a atual geração, a fim de ganharmos o maior número de pessoas possíveis, assim como o apóstolo Paulo (I Co 9.19-27). Precisamos ser como o pai de família citado por Jesus, que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas, ou seja, precisamos usar novas estratégias para anunciar o evangelho sem contudo desprezar a mensagem do evangelho que é antiga (Mt 13.51-52).
Ainda assim, o Evangelho por si só já suficiente. Na implantação de uma nova Igreja, a pregação da mensagem do Evangelho deve ser integral e abundante, afinal de contas (...) o Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crer (...), e o Evangelho é Jesus Cristo (Rm 1.16; I Co 15.1-4).
            Ao plantador, além de fidelidade ao Senhor e a sua Palavra, é necessário capacitação harmonizada com integridade e uma vida regada pelo Espírito. São características que devem estar presentes de forma equilibrada e não aos extremos. Podemos ter grandes estruturas e recursos abundantes, mas não chegaremos muito longe sem um caráter integro e uma vida de devoção ao Senhor. Assim como o obreiro de vida piedosa, mas sem a capacitação devida, não será eficiente em seu trabalho. É preciso conciliar essas características, no entanto, entendo que a integridade e uma vida cheia do Espírito são primordiais e superiores a capacitação e habilidades, pois nos tornam mais dependentes e submissos a vontade do Senhor. São estes que lançam a mão no arado para o trabalho mesmo talvez sem muita capacitação, e em sua simplicidade alcançam muitos que não são da fé. Foi assim com os primeiros discípulos, que se tornaram apóstolos, homens apaixonados e destemidos que alcançaram todo o mundo da sua época (todo o Império Romano) com a mensagem do Evangelho(CL 1.6). Não tinham muitos recursos ou mesmo escolaridade, mas havia neles uma fé genuína e uma vida rica e abundante em Deus. Não tinham todos os recursos que tínhamos hoje, mas tinham todo o necessário para cumprir a missão, Jesus.    
            O desenvolvimento de estratégias na implantação de novas Igrejas deve se adequar a cada tempo e cada público. A implantação de novas Igrejas pode vir a fracassar devido ao despreparo e desinformação dos plantadores diante de uma comunidade em constante transformação. A ausência de preparo e o uso incorreto de ferramentas pode até levar a Igreja ao descrédito diante de uma comunidade alvo, sendo vista como uma sociedade alienada e descontextualizada.  Além disso, toda ferramenta ou estratégia utilizada deve ser antes de tudo fruto de uma reflexão teológica que fomente a sua utilização. A reflexão teológica é muito importante para isso, pois trabalha em parceria com a missiologia. A reflexão teológica para o plantio de igrejas ajuda a Igreja a entender o sentido da Missão e entendimento bíblico motivacional para o evangelismo, enraizando a Igreja tanto na pessoa quanto na missão de Deus. A orientação teológica para o plantio de Igrejas dá base apara a análise sócio-cultural, a reflexão teológica e a visão para a Igreja e sua missão. A ausência de uma visão definida acerca do plantio nos distancia do propósito real de Deus e de sua própria visão. Uma boa teologia conduz a uma boa metodologia e formulação de estratégias, com segurança bíblica e valores do Reino. A visão nos ajuda a manter o alvo e o foco na missão. Mas do que tudo devemos buscar a visão de Deus, pois é Ele que nos orienta em tudo diante dos novos desafios.
            Existem muitos modelos de implantação de Igrejas, modelos que deram certo e que foram eficazes. Modelos e métodos que deram certo em um determinado local não garantem o sucesso em outro local distinto. É necessário conhecer o seu alvo, compreendê-lo social e culturalmente, identificando as suas particularidades e o tipo de evangelismo adequado com uma abordagem que seja clara, receptiva e funcional. Por isso é preciso saber com que tipo grupo social está se trabalhando antes de iniciar o trabalho, se é em uma zona urbana, suburbana, rural, tribo urbana ou populações tribais. A partir do conhecimento prévio do grupo alvo, podemos formular uma estratégia para o evangelismo, que deve constante, abundante e intencional. Contudo, como já disse antes, a abundante evangelização é um elemento estratégico e funcional somente se o conteúdo da evangelização for a Palavra de Deus. Nosso objetivo deve ser apontar e levar as pessoas a Cristo, não alto promover a igreja ou um projeto seu ou mesmo a si mesmo: Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.” (I Co 9.18) – logo não há evangelismo sem a cruz de Cristo. A oração creio eu ser um recurso indispensável antes, durante e sempre. Através da oração nos mantemos conectados com o Senhor Jesus e as intenções do seu coração, então nos tornamos mais aptos a pedir segundo a sua vontade, se procedemos assim é certo que seremos atendidos (Mt 21.22). René Padilla disse que “sem oração não há missão cristã. Poderá haver proselitismo religioso, obras e ações de caridade, ou tarefas missionárias, mas não há missão cristã”. A missão nasce no coração de Deus, que através o Espírito Santo age na história, com a finalidade de exaltar a Jesus Cristo como Senhor do universo e de cada ser humano e termina no próprio Deus, pois tudo é para sua glória. Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente” (Rm 11.36).
            Nas igrejas já previamente estabelecidas e funcionais, o plantador deve investir na capacitação e treinamento de líderes locais. A partir de uma liderança local estabelecida a igreja torna-se autóctone e mais relevante em sua comunidade ao ponto que esses líderes compreenderam melhor as necessidades e os anseios da sua comunidade, podendo ir de encontro a elas com a mensagem do Evangelho. O plantador precisa discernir o momento de encorajar esses novos líderes nativos a desempenhar o trabalho e reproduzi-lo e partir daí apenas supervisionar. É claro que esse processo é um período de muito trabalho em evangelismo e discipulado até que seja gerado um grupo de homens e mulheres maduros e engajados na fé. A multiplicação de líderes locais é diretamente proporcional a multiplicação de Igrejas.
            Além de se proclamado de forma inteligível e através do nosso testemunho pessoal, o evangelho é uma mensagem que tem de estar em pleno movimento. Antes pensávamos em pregar a Cristo para salvar as almas, nos atendo somente a questão espiritual. No entanto, agora temos de entender que o ser humano é um ser complexo, não somente espiritual, mas também social e biológico e com suas respectivas necessidades. O evangelho sempre foi para o homem todo, nós que o sistematizamos. Mas do que salvar almas precisamos pregar e viver um evangelho que salve vidas para o Reino de Deus. A Igreja deve se esforçar para obter uma compreensão clara e concreta dos princípios cristãos para ir de encontro a essas necessidades de forma prática. Devemos nos perguntar como o Evangelho pode gerar transformação em comunidades pobres, em grupos desprovidos de ajuda comunitária, serviços básicos de saúde, como água tratada, esgoto, recolhimento de lixo, educação precária e deficiente, desemprego, drogas, crianças abandonadas, etc. Devemos nos lembrar que o enfoque principal de Jesus não era a salvação, mas o Reino de Deus e este estabelecido desde já naquele que por Ele é salvo. Deus é amor, e o amor é lei suprema da vida; e ele está ligado à paixão pela justiça social. Uma Igreja que se faz indiferente as necessidades sociais de sua comunidade na verdade não vive e nem entende a mensagem do Evangelho, e o Evangelho é Cristo, e “Cristo é verbo e não substântivo.”
            No final de todas essas coisas muito depende do perfil do plantador de Igrejas. O caráter certamente vai além das habilidades. Isso para mim é indiscutível. Quanto ao caráter, este deve ser sempre e constantemente moldado pelo Senhor. Lidório cita 5 características: forte convicção do chamado, integridade, espírito ensinável, ardor evangelístico e temor do Senhor. É certo que o Senhor chamou todos para irem, mas escolheu alguns para fazerem parte dessa linha de frente desbravando terrenos ainda não alcançados. A isso se deve a graça multiforme da graça de Deus que é manifestada na Igreja: E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.” (Ef 4.11)
                O que mais me impressiona é que quando Deus nos chama nos convoca para essa obra, é mais que uma oportunidade ministerial, é uma proposta de estilo de vida. Quando não entendemos isso corremos o risco de tratar o trabalho de implantação de Igrejas como um negócio e o gerimos como tal. Refletimos nele os nossos sonhos e anseios ao invés dos de Deus, pois a missão não é nossa, mas de Deus, e nós também somos d’Ele. O Senhor nos convida para nos comprometermos com a sua missão nesse mundo. A Igreja, uma comunidade de pessoas redimidas, foi a sua estratégia usá-la para executar os seus planos, e a igreja deve ser e é a sua colaboradora.           
            

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