sexta-feira, 4 de junho de 2010

Missão e Teologia


Certamente não poderíamos falar de Missão e Teologia como duas áreas de conhecimento mutuamente exclusivas ou independentes. Missão e Teologia estabelecem uma relação de simbiose restrita em que se é impossível uma viver sem a outra, ambas se completam e não podem se manter integrais isoladamente. A quem separe, e faça preferência entre uma e outra, considerando a Missão superior a Teologia e vice versa. René Padilla fala sobre isso em seu livro intitulado “O que é Missão Integral” (especificamente no capítulo 2/Para que serve a Teologia?). A partir de uma perspectiva latina americana ele disserta sobre utilidade da Teologia no estabelecimento da Missão da Deus, e as suas implicações em relação com a sua Igreja, a qual Ele escolheu como instrumento de proclamação. Inicialmente ele fala sobre o descrédito que a Teologia e os que fazem Teologia tem na visão dos evangélicos latino-americanos, em que é uma área de conhecimento elitizada, inútil, em nada tem contribuído para os aspectos práticos da obra. Deixaram de promover a reflexão teológica, se “profissionalizaram”, abandonaram a fidelidade ao evangelho e se desvincularam da Igreja, a qual tem perdido o seu modo de ser e de agir. Sem a reflexão teológica adequada a Igreja torna-se susceptível ao pragmatismo, “e a ação se transforma em um ativismo sem direção”.  Desse modo o fim acaba que justificando os meios, a Igreja sem uma identidade teológica bíblica se entrega aos métodos sem avaliação a luz da Palavra e se afasta dos princípios e valores do Reino e a real motivação da Missão. É o que o famoso teólogo do século XIX, Karl Barth, disse certa vez, é a “construção do “Reino” e não o crescimento orgânico do Reino”. Ao invés de avaliar as nossas iniciativas e prospecção a luz dos valores do Reino avaliou segundo o número de pessoas que freqüentam as reuniões, o tamanho dos templos, o volume dos orçamentos, etc. Precisamos ter uma Teologia fundamenta em princípios bíblicos que sirva a Igreja, e a auxilia para responder e solucionar as problemáticas do contexto histórico vivido por ela.
Precisamos ser fieis ao Senhor e sua Palavra. Uma Igreja fundamentada biblicamente se auto-verifica, questiona as suas ações, não se entrega ao ativismo. A Igreja de hoje precisa ser relevante para a sua geração. Padilla diz: “(...) a fé tem de se articular de tal forma que responda aos novos desafios e interrogações que surgem da situação do mundo contemporâneo.” Se contextualizar a partir de uma boa reflexão teológica, não quer dizer desprezo pelo passado, muito pelo contrário. Uma Igreja que deseja ser relevante e pregar um evangelho que faça sentido para a sua geração deve entender a sua própria história, e não há como fazer isso sem olharmos para o passado. O próprio Evangelho é antigo, a bíblia é antiga, então porque desprezaríamos aqueles que nos sucederam na carreira da fé. Muito pelo contrário, conhecendo a nossa história seremos bem mais eficientes na proclamação do Evangelho em nossos dias. “Portanto, a teologia cumpre a função de articular a mensagem de Deus, mostrando sua relevância a cada novo contexto”.
Então a Teologia tem a função de orientar a Igreja em sua razão de ser e de agir e articular a sua mensagem, ou melhor, a mensagem de Deus de uma forma relevante no seu próprio contexto socioeconômico, político e cultural. Essas duas funções da Teologia estão relacionas à Missão da Igreja. Na verdade a Missão seria a “parteira” da Teologia. Exemplo disso é o apóstolo Paulo, ele fazia teologia a medida que ia proclamando as boas novas do Reino (Missão), edificando a Igreja e resolvendo os seus conflitos internos e externos. Enquanto a Missão leva a Igreja a proclamar o Evangelho e dar o sentido de existir da Igreja e o seu papel na Missão de Deus no mundo, a Teologia gera a reflexão para medir as iniciativas da Igreja em prol da Missão em consonância com o Evangelho em cada situação específica. Padilla conclui que o desinteresse dos evangélicos latino-americanos com a teologia é justamente a sua despreocupação com a fidelidade a Palavra em detrimento dos seus métodos para realização da Missão, “substituem a Palavra por palavras e ação pelo ativismo.” A conseqüência disso são Igrejas biblicamente descontextualizadas dentro do seu mundo e no Reino de Deus.
Não podemos separar a Teologia da Missão, ambas são essenciais para que a Igreja, o povo de Deus, cada discípulo de Jesus entenda o seu papel no plano redentor de Deus e o faça de acordo com as intenções do seu coração. E só assim a Igreja poderá atingir sua finalidade maior, glorificar a Deus.

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